A psicanalista argentina Débora Tajer, referência latino-americana nos estudos de gênero e saúde coletiva, inicia sua estadia no Programa “Cesar Lattes” de Cientista Residente do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp (IdEA) com a palestra “Masculinidades contemporâneas. Construção, desconstrução e reconstrução conservadora – abordagens interseccionais”, no dia 22 de outubro, às 18h, no Anfiteatro 1 da Faculdade de Ciências Médicas (FCM).
Doutora em Psicologia pela Universidade de Buenos Aires (UBA) e mestre em Ciências Sociais e Saúde pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), Tajer é professora da Faculdade de Psicologia da UBA, onde leciona as disciplinas Saúde Pública/Saúde Mental e Introdução aos Estudos de Gênero. Sua trajetória combina a psicanálise, o feminismo e o sanitarismo, propondo uma leitura pós-patriarcal e pós-colonial da subjetividade e das relações humanas.
Autora de obras traduzidas para diversos idiomas, entre elas Psicoanálisis para todxs (Topía, 2020) e Psicología Feminista (2022), a pesquisadora também realizará, durante a residência, o encontro aberto sobre seu livro Psicanálise para todxs, no dia 14 de novembro, às 18h, no Espaço das Artes da FCM. O evento faz parte de uma programação que inclui conversas com docentes, pesquisadores e estudantes das áreas de saúde coletiva, psicologia, ciências sociais e estudos de gênero.
Em entrevista ao Jornal da Unicamp, Tajer refletiu sobre as transformações contemporâneas nas relações amorosas, as novas masculinidades e os desafios das gerações mais jovens diante das mudanças de gênero. Segundo ela, vivemos um momento histórico em que os homens começam a se questionar, enquanto as mulheres exigem novas formas de convivência e afeto.
“Os homens descobriram que têm gênero também. Estão sendo obrigados a revisar o poder e a sofrer com isso. As mulheres, por sua vez, precisam falar mais — sem medo de assustar os homens”, afirmou.
Para Tajer, o fim do amor não existe — o que está em curso é a reinvenção das formas de amar, livres da desigualdade e da crueldade. Em sua visão, o consentimento é o “preservativo” dos novos tempos: um instrumento ético e afetivo para construir vínculos saudáveis.
“O consentimento é o que permite relações sem abuso. É perguntar, ouvir e respeitar o outro. Assim como aprendemos a usar o preservativo nos anos 1990, precisamos aprender a praticar o consentimento agora”, destacou.
A psicanalista também chamou atenção para o aumento da polarização e do ódio nas redes sociais, fenômeno que, segundo ela, revela um mal-estar coletivo:
“O ódio é um antidepressivo para os que se sentem excluídos. Precisamos voltar ao encontro presencial, à convivência e à ternura como categoria política.”
A residência de Débora Tajer no IdEA segue até 15 de novembro e integra o conjunto de iniciativas do Instituto voltadas à reflexão crítica sobre gênero, saúde, cultura e sociedade, em diálogo com a produção acadêmica e com o público.
Leia a entrevista completa no Jornal da Unicamp.