Autor: Felipe Mateus
O Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp deu início a uma campanha institucional de valorização do Sistema Único de Saúde – SUS. Com o nome “Saúde é Independência – Unicamp e SUS”, a ação tem o objetivo de sensibilizar a comunidade universitária e o público externo sobre a importância do sistema para garantir o direito universal à saúde previsto pela Constituição Federal, preservar a história de pessoas da Unicamp que contribuíram com a implantação do SUS no país e evidenciar a presença do SUS nos serviços de saúde prestados pela universidade. Entre as ações previstas para a campanha, está o lançamento de um documentário sobre o tema. O evento será em 6 de outubro, às 15h30, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM).
A campanha foi elaborada pelo Grupo de Estudos e Ação em Saúde Pública do IdEA, coordenado por Gastão Wagner, professor da FCM que participou de forma ativa da implementação do SUS. Além de discutir estratégias de promoção do sistema de saúde, o grupo tem o objetivo de propor melhorias nas políticas públicas da área. “O maior projeto de extensão da Unicamp é na área da saúde. É o nosso trabalho que vai para fora, voltado à população. Atendemos a macrorregião de Campinas, pacientes graves de outras regiões do país, nossos pesquisadores são ligados ao SUS”, argumenta Gastão.
“Gostaríamos que a campanha e o próprio documentário fossem catalisadores de discussões sobre o sistema de saúde e formas de outras áreas da Unicamp de se envolverem nessa causa, percebendo a saúde como um patrimônio de toda a universidade”, explica Christiano Lyra Filho, coordenador do IdEA.
Entre fundadores e novas gerações
Por meio de entrevistas e recuperação de acervos históricos, o documentário “Saúde é Independência – Unicamp e SUS” apresenta histórias de docentes e profissionais da Unicamp, ou de pessoas que tiveram passagem pela universidade, que trabalharam pela implementação do SUS. “Recuperamos a história de nomes como Sérgio Arouca, Nelson Rodrigues dos Santos, entre outros. Pensamos em dar voz a esses fundadores e contar suas histórias”, detalha Gastão Wagner.
Além de estarem presentes em trechos do filme, as entrevistas realizadas estarão disponíveis no Arquivo Central da Unicamp (SIARQ). Para Christiano Lyra, o documentário é uma forma de homenagear os profissionais do SUS presentes na vida universitária e também um instrumento que pode gerar novas ações de valorização. “É um trabalho que deixa frutos para nossos colegas, um marco no presente que mostra como o SUS é parte da Unicamp para servir à comunidade, tanto nas unidades hospitalares, quanto nos projetos de extensão.”
Toda a idealização da campanha contou com a participação de estudantes de medicina ligados ao Centro Acadêmico Adolfo Lutz (CAAL). “Durante a produção do documentário, me perguntaram se eu achava que o SUS tinha futuro. Ele não só tem futuro como também tem o presente. Isso é algo que vejo muito agora, quando passo boa parte do tempo no Hospital de Clínicas. Vejo muitos profissionais que me inspiram. Vejo a forma como eles acolhem os pacientes”, revela Ramon Carvalho, estudante da FCM e idealizador da identidade visual da campanha. Segundo ele, o estilo que remete aos grafites lembra a proposta das artes urbanas de ocupar os espaços públicos e estimular reflexões. O muro é formado por logomarcas do SUS dispostas como tijolos e as cores escolhidas remetem a grupos como pretos e pardos e a comunidade LGBT+. “São populações que, muitas vezes, não recebem cuidado, mas que, devido aos princípios de universalidade e equidade do SUS, conseguimos abraçar”, explica.
Ramon pontua que os frutos do envolvimento dos estudantes com a campanha já podem ser percebidos. “Alguns encontros de ligas acadêmicas já são influenciados por esse debate. Motivado pelo projeto, o Centro Acadêmico já tem planos para produzir, por exemplo, adesivos, cartazes, folhetos informativos para a população. Estamos evoluindo aos poucos desde o início da campanha.”
‘As pessoas não sabem onde o SUS está’
Criado a partir das disposições da Constituição Federal de 1988 e implementado pela Lei nº 8.080/1990, o SUS é o instrumento pelo qual o Estado Brasileiro garante o acesso universal à saúde e mantém centros e postos de saúde, hospitais, laboratórios, serviços de vigilância e institutos de ensino e pesquisa. Entretanto, na visão de Gastão Wagner, é necessário tornar mais claro às pessoas o quanto o sistema está presente no cotidiano. “O SUS é ruim de marca. Se você observar, não há nenhuma placa no Hospital de Clínicas da Unicamp, por exemplo, indicando que aquela é uma unidade do SUS. Muitos profissionais não têm a identificação do SUS nos uniformes. As pessoas não sabem onde o SUS está, ocorre um apagamento”, observa.
Ele argumenta que isso pode resultar em uma desmobilização social em defesa do SUS, o que põe em risco seu funcionamento. “Aqui no Brasil temos uma certa indiferença, um desconhecimento a respeito do SUS. Por exemplo, no Reino Unido, existe o NHS, o National Health Service. Quando governos contrários a políticas públicas tentaram reduzir seus recursos para a saúde, como foi o caso da gestão de Margaret Thatcher, a sociedade se insurgiu em defesa do NHS, vários setores se envolveram, não apenas os profissionais da saúde.”
Gastão defende que ações, como a campanha idealizada pelo IdEA, possibilitem que mais setores da sociedade conheçam e defendam o sistema de saúde. “Com a pandemia, o SUS entrou na agenda, as pessoas passaram a discutir mais o tema e aumentou a percepção de que o Brasil precisa do SUS. Ao mesmo tempo, as falhas do sistema ficaram muito mais evidentes. Mas houve uma ampliação da consciência de que ele é necessário e de que precisa de mais financiamento, de que não é algo só relacionado à gestão”, argumenta.