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doenças

Resumo – O Brasil enfrenta um cenário marcado por doenças socialmente determinadas, que afetam principalmente populações negligenciadas. Segundo o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, 99.3% dos municípios brasileiros registraram ao menos uma doença tropical negligenciada entre 2016 e 2020.  Devido ao alto impacto que causam na saúde pública, as seguintes doenças negligenciadas que afetam as comunidades mais vulnerabilizadas foram selecionadas como foco deste estudo: doença de Chagas, leishmanioses, hanseníase, esquistossomose e malária. foram selecionadas como foco deste estudo. O objetivo é apresentar as principais lacunas no enfrentamento dessas doenças, abrangendo desafios na pesquisa pré-clínica e clínica até nas necessidades de cuidado não atendidas que impactam diretamente os pacientes. Nesse contexto, foram mapeados e analisados os principais obstáculos enfrentados pelos diferentes atores envolvidos (comunidade científica, equipes clínicas, pacientes e sociedade civil), considerando dados epidemiológicos, ferramentas de controle e diagnóstico, tratamentos atualmente existentes e perspectivas terapêuticas emergentes para cada uma das enfermidades abordadas. Os autores refletem sobre as limitações e desafios encontrados e propõem caminhos para superá-los, destacando o papel da comunidade acadêmica na promoção de soluções inovadoras e seu potencial impacto transformador sobre as populações negligenciadas.

Palavras-chave: doença de Chagas, leishmanioses, hanseníase, esquistossomose, malária

INTRODUÇÃO

As Doenças Determinadas Socialmente (DDS) (Ministério da Saúde, 2024a) recebem essa denominação devido à sua estreita relação com determinantes sociais e ambientais, como a falta de moradia adequada, ausência de saneamento básico e acesso à água potável, exposição a ambientes sem coleta de resíduos, pobreza extrema, insegurança alimentar, entre outros fatores que afetam, em sua maioria, países de baixa e média renda.

Além dessas condições sociais que impactam principalmente populações vulnerabilizadas, pacientes acometidos por DDS também enfrentam dificuldade de acesso a serviços de saúde e uma grave escassez de tratamentos eficazes, seguros e acessíveis. Essa lacuna se deve a diversos fatores, como o alto custo dos medicamentos, o baixo interesse da indústria farmacêutica em desenvolvê-los e a falta de formulações adaptadas às realidades locais e geográficas (OMS, 2025). Por muito tempo, os tratamentos disponíveis eram invasivos, associados à elevada toxicidade e acompanhados de significativo desconforto e efeitos colaterais potencialmente severos, o que limitava seu uso. Alguns ainda permanecem sob essa perspectiva, evidenciando a necessidade de soluções centradas nos pacientes e em suas reais necessidades (MSF, 2025a).

Não por acaso, esse grupo de doenças também é classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs), por se tratar de enfermidades com alto potencial de letalidade e morbidade, mas que permanecem à margem dos esforços globais de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos (OMS, 2025).

A preocupação com este grupo de doenças não é exclusiva a este tempo histórico. Em 2002, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), por meio da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais e do Grupo de Trabalho para Doenças Negligenciadas (DND – que mais tarde daria origem à Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas, DNDi), lançou o documento “Um Desequilíbrio Fatal” (MSF, 2025b). O relatório denunciou a crise na pesquisa e desenvolvimento (P&D) de medicamentos para DTNs, revelando que os países em desenvolvimento (para utilizar a nomenclatura do período), que na época representavam 80% da população mundial, respondiam por apenas 20% do mercado farmacêutico, ficando à margem dos avanços da P&D nas últimas décadas. Como resposta, o documento propôs uma série de recomendações para superar esse impasse. Dentre elas, a criação da DNDi, uma entidade sem fins lucrativos com capacidade de coordenar internacionalmente o desenvolvimento de novos tratamentos para essas doenças (MSF, 2025b).

Ainda, a adoção de uma abordagem centrada no paciente garante que os avanços científicos e tecnológicos respondam às necessidades reais da população. Essa perspectiva reconhece a autonomia, os valores, a cultura e as preferências dos indivíduos, promovendo cuidados mais éticos, inclusivos e adaptados à realidade local. O paciente deixa de ser visto como um “outro” ao final da linha e passa a ocupar um papel no processo de desenvolvimento. No contexto das DTNs, essa abordagem é ainda mais crucial pela relação deste grupo de doenças com a negação de direitos fundamentais reconhecidos por Organizações Internacionais de Direitos Humanos.

É importante salientar que, apesar de afetar proporcionalmente pessoas em situação de vulnerabilidade social, algumas dessas doenças atingem grupos de subpopulações de maneira mais específica. É o caso da esquistossomose genital feminina (OMS, 2024a), cujo impacto está diretamente relacionado à saúde sexual e reprodutiva de mulheres jovens e adultas, e a doença de Chagas (De Arias et al., 2022), que pode ser adquirida pela via de transmissão vertical, durante a gestação, a principal via de infecção de crianças.

O enfrentamento às DTNs pode representar um investimento estratégico com retornos significativos para a saúde global e para o modelo de Uma Só Saúde (One Health Framework), que representa um marco na forma como compreendemos e abordamos os desafios em Saúde Global, mudando o foco para uma estratégia integrada e holística que reconhece a conexão entre saúde humana, animal, ambiental e vegetal. Intervenções eficazes para o controle e eliminação dessas doenças são altamente custo-efetivas, gerando benefícios para além da população afetada. Dentre eles, a esperança de que a erradicação das DTNs gere um benefício líquido estimado de cerca de US$25 para cada US$1 investido em quimioterapia preventiva.

Como resultados concretos de iniciativa de eliminação e erradicação, em 2024 o Brasil recebeu a certificação de país livre da filariose linfática como problema de saúde pública (Victor, 2024), uma das metas do Programa Brasil Saudável, lançado também em 2024 (Ministério da Saúde, 2024b). O programa conta com uma política governamental específica para eliminar ou reduzir problemas de saúde pública, como 14 doenças e infecções que acometem populações em situação de maior vulnerabilidade social, sob tutela do Comitê Interministerial para a Eliminação da Tuberculose e Outras Doenças Determinadas Socialmente (CIEDDS).

Esse esforço foi possível somente graças a um maior alinhamento governamental para esta temática. A criação da Estratégia Nacional para o Desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS) (Decreto nº 11715 de 26 de setembro de 2023). e o estabelecimento da Matriz de Desafios Produtivos e Tecnológicos em Saúde (Portaria GM/MS nº 2261, de 8 de dezembro de 2023) são exemplos de programas que fortalecem o enfretamento às DTNs.

Por outro lado, o relatório G-FINDER 2024 (G-Finder, 2025), destacou tendências preocupantes no financiamento da inovação médica para atender essas necessidades. A análise abrangente mostra quedas substanciais no recurso disponível para DTNs oriundos dos setores público e privado, com o financiamento total caindo quase US$ 650 milhões em relação ao pico de 2018, e o financiamento público no nível mais baixo desde 2015.

O financiamento atingiu ou se aproximou de níveis recordes de baixa para doenças causadas por cinetoplastídeos (incluindo leishmaniose, doença de Chagas e doença do sono) e infecções por helmintos (incluindo oncocercose, esquistossomose e filariose linfática). Adicionalmente, os recentes cortes dos Estados Unidos (Lakhani, 2025) voltados à colaboração científica e a programas de importância global em saúde também geram bastante preocupação em relação aos desafios deixados pela lacuna financeira.

Alinhado ao exposto, foram selecionadas algumas DDSs que tem alto impacto na saúde pública brasileira para expor os principais dados epidemiológicos e avanços e desafios em termos de diagnóstico, tratamento e acesso. A doença de Chagas, as leishmanioses, esquistossomose, hanseníase e malária são 5 DDSs que afligem o Brasil e que causam grande impacto ao sistema de saúde, à população e a economia, devido a morbidade e mortalidade associados. Serão abordados, brevemente, fatores importantes desde a pesquisa básica e pré-clínica até as necessidades médicas não atendidas, sendo destacadas potenciais medidas para enfrentá-las. É possível identificar que alguns pontos são comuns a elas e que, estratégias semelhantes poderiam ser adotadas para preencher essas lacunas.

DISCUSSÃO: PANORAMA ATUAL, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Doença de Chagas      

Descoberta em 1909, por Carlos Chagas, a doença de Chagas (DC) é uma infecção parasitária causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. A DC é uma importante causa de morbidade, mortalidade e incapacidade em diversos países da América Latina, incluindo o Brasil. É endêmica nos 21 países da América Latina, afetando cerca de 7 milhões de pessoas, com uma estimativa de 10.000 mortes por ano (DNDi, 2025a). A globalização e a intensa migração populacional nas últimas décadas, contribuíram para a expansão da DC para regiões não-endêmicas, como a América do Norte, Europa e Oceania (Gonzalez-Sanz et al., 2023; Gürtler, 2022). De grande relevância epidemiológica, são os casos autóctones reportados em regiões não-endêmicas, a exemplo dos Estados Unidos (Beatty et al., 2025).

O Brasil registra mais de 5 mil mortes associadas às complicações desenvolvidas na fase crônica, quase 50% dos 12 mil óbitos anuais estimados globalmente. Isso resulta em significativas perdas econômicas e de produtividade, alcançando a marca de US$1,3 bilhões, devido à morbidade associada à fase crônica da DC (Andrade et al., 2025). Dados epidemiológicos do Ministério da Saúde mostram que as regiões mais afetadas são as do Norte e Nordeste, mais desprivilegiadas socioeconomicamente (Ministério da Saúde, 2025a).

No Brasil, nas regiões Norte e Nordeste, a forma oral é a principal forma de contágio, enquanto nas regiões Sul e Sudeste predomina a forma vertical e na região Centro-Oeste a transmissão vetorial (Santana et al., 2018; Schmunis, 2007)). A importância da transmissão transfusional e por transplante de órgãos é mais prevalente em regiões não-endêmicas, onde a triagem sorológica para o T. cruzi não é realizada rotineiramente (Schmunis, 2007).

No ser humano, a DC apresenta-se em duas fases: aguda e crônica. A fase aguda é caracterizada por alta parasitemia, normalmente assintomática ou com sintomas febris inespecíficos, durando de 4 a 8 semanas. Nesta fase, o tratamento farmacológico com o benznidazol (BZN) e o nifurtimox (NFX), ambos disponibilizados pelo SUS, é eficaz e leva a cura da doença (Gonzaga et al., 2023), embora a baixa tolerabilidade dificulte a adesão ao tratamento. No entanto, se não diagnosticada e tratada, a infecção evolui para a fase crônica. Esta, marcada por baixa parasitemia e ausência de sintomas, é caracterizada por reservatórios do parasita no tecido cardíaco, muscular e gastrointestinal, onde causam lesões irreversíveis (Bocchi et al., 2017; Osorio-Méndez; Cevallos, 2019). Cerca de 30% a 40% desses pacientes desenvolvem as formas cardíacas, digestiva ou cárdio digestiva da DC (Osorio-Méndez; Cevallos, 2019). Nesta fase, o tratamento farmacológico atual não é eficaz.

É comum que o diagnóstico na fase aguda não ocorra pelo baixo índice de suspeição, em grande parte pela ausência ou inespecificidade dos sintomas apresentados, semelhantes à de outras doenças febris. Nos casos de transmissão oral, a depender da carga parasitária ingerida, os sintomas, apesar de inespecíficos, tendem a ser mais expressivos – até fatais – levando o paciente a buscar atendimento médico (Benchimol Barbosa, 2006; Franco-Paredes et al., 2020). O diagnóstico na fase aguda é feito pela detecção da presença do parasita, na sua forma tripomastigota, no sangue do paciente. Já na fase crônica, quando a parasitemia é baixa, o diagnóstico por microscopia não é possível, sendo necessária a utilização de métodos moleculares para a identificação do parasita ou a detecção de anticorpos específicos, sendo preconizado o uso de ao menos duas técnicas para o correto diagnóstico (Suárez et al., 2022).

Em 2015, a DNDi lançou o programa de acesso, com o objetivo de simplificar e descentralizar o diagnóstico e tratamento para DC, bem como levar atividades de comunicação e incidência política, além de capacitação de profissionais de saúde para áreas endêmicas (DNDi, 2025b). Para enfrentar a realidade do baixo diagnóstico, foi implementado um plano de ação centrado no paciente em cinco municípios colombianos, com o objetivo de eliminar barreiras e ampliar a cobertura. Os resultados foram expressivos: o número médio de pessoas testadas por ano aumentou de 37 para 262; o tempo entre a solicitação médica e a confirmação do diagnóstico caiu de 258 para 19 dias; e o intervalo entre a confirmação do diagnóstico e o início do tratamento foi reduzido de 354 para 135 dias (Herazo et al., 2022). Esse roteiro de implementação, que resultou em uma Linha de Cuidado simplificada e descentralizada, abordou barreiras específicas, contribuindo para reduzir a invisibilidade da doença e seu impacto, sempre com foco em uma figura muito importante: o paciente.

A taxa de cura depende de vários fatores como a fase e a duração da doença, idade do paciente, comorbidades associadas e até a susceptibilidade do parasita aos quimioterápicos utilizados (Lidani et al., 2019). Um dos grandes obstáculos para a cura parasitológica é a eliminação de formas dormentes do T. cruzi (Campos et al., 2014; Kratz et al., 2018; Sánchez-Valdéz et al., 2018). Um outro fator a ser considerado na efetividade do tratamento é que a população do T. cruzi é heterogênea, sendo agrupada em seis grupos geneticamente distintos (discrete typing units – DTUs TcI – TcVI), e um sétimo grupo denominado Tcbat. Esta diversidade é observada na susceptibilidade ao tratamento, na distribuição geográfica e na virulência dos parasitas, por exemplo.

O único avanço recente foi o desenvolvimento da formulação pediátrica do BZN (Altcheh et al., 2014) e os novos regimes de tratamento com o BZN, como o BENDITA, que melhoram a eficácia e a tolerabilidade do fármaco. Atualmente, alguns compostos se encontram em fase clínica de desenvolvimento, como o LXE408 (ClinicalTrial.gov, 2025a) e o AN2-502998 (ClinicalTrial.gov, 2025b). Atualmente não há vacinas contra o T. cruzi. Aquelas desenvolvidas com objetivo profilático, até o momento, resultaram apenas em proteção parcial, sem causar esterilização. A variabilidade antigênica e geográfica de diferentes linhagens de T. cruzi também limitam o desenvolvimento de uma vacina de amplo espectro, bem como a forma de infecção e carga parasitária inoculada, que modifica o perfil de resposta imunológica do paciente. Outra abordagem que vem sendo explorada é a vacinação terapêutica, utilizada em associação ao tratamento antiparasitário, com o objetivo de eliminar o parasita do organismo por duas frentes distintas. Uma vantagem é que essa estratégia poderá oferecer um regime terapêutico com menores doses dos fármacos disponíveis (Martins-Melo et al., 2019).

Refletindo sobre o exposto, é possível identificar lacunas que dificultam o desenvolvimento de novas opções terapêuticas, profiláticas e de diagnóstico da DC, bem como seu manejo clínico. Abaixo destacam-se principais desafios e algumas estratégias de enfrentamento são propostas:

  • Ampliar o conhecimento sobre a variabilidade genética do parasita e seu impacto na patogênese da DC;
  • Avaliar potenciais candidatos a fármacos frente as diferentes formas evolutivas e DTUs;
  • Manter rigorosas medidas de controle e vigilância dos triatomíneos nas regiões endêmicas e não endêmicas;
  • Ampliar a capacidade da rede de assistência para diagnóstico laboratorial, atendimento e acompanhamento de pacientes;
  • Implementar de maneira efetiva os protocolos clínicos voltados à prevenção da transmissão vertical da DC;
  • Intensificar as campanhas para conscientização da população sobre fatores de risco e prevenção.

Leishmanioses

As leishmanioses são doenças que acometem principalmente populações vulneráveis de países tropicais e subtropicais, com estimativas da OMS indicando que entre 700 mil e 1 milhão de novos casos ocorrem anualmente em cerca de 90 países. Na Américas, observa-se tendência de redução dos casos; no entanto, a análise de dados de cada país mostra aumento de casos de leishmaniose visceral (LV) na Argentina e Paraguai e de leishmanioses tegumentares (LT) na Argentina, Costa Rica, Equador, México e Suriname (OPAS, 2024). Ainda, as mudanças climáticas alteram os padrões de distribuição espacial de flebotomíneos aumentando o contato entre humanos, reservatórios e vetores. Além disso, a migração de humanos e animais pode facilitar a disseminação do parasito (Cosma et al., 2024).

As leishmanioses são um grupo de enfermidades de alta complexidade epidemiológica e clínica, causadas por protozoários do gênero Leishmania transmitidos pela picada de insetos flebotomíneos (OPAS, 2024). As leishmanioses são classicamente divididas em: cutânea (localizada, disseminada, difusa) e mucosa, e a forma visceral (incluindo a apresentação cutânea pós-calazar), a última potencialmente fatal se não tratada precocemente. Essas enfermidades ainda representam um grave problema de saúde pública, não apenas pela morbidade e complexidade do tratamento, mas também, no caso das LTs, pelo estigma social causado pelas lesões e cicatrizes permanentes (Gómez et al., 2020; Nuwangi et al., 2023).

No caso da LV, o diagnostico laboratorial é feito pela demonstração dos parasitos em medula óssea e aspirados do fígado e baço, procedimentos invasivos e com risco associado. Testes sorológicos, imunocromatográficos rápidos ou rK39 em ensaios de imunoadsorção enzimática, immunoblotting e teste de aglutinação direta apresentam limitações na acurácia com altas taxas de falsos positivos e incapacidade de diagnosticar recidivas. A reação em cadeia da polimerase tem elevada acurácia (Thakur; Joshi; Kaur, 2020) contudo, técnicas diagnósticas “point of care” mais sensíveis e específicas a serem utilizadas no momento do atendimento inicial são necessárias para garantir agilidade e ampliar o acesso ao diagnóstico precoce e início do tratamento. O diagnóstico precoce é essencial para iniciar o tratamento específico, controlar as lesões e outras manifestações clínicas, evitar complicações da doença, minimizar o risco de sequelas (associadas às LTs) e óbitos (na LV) e melhorar a qualidade de vida dos pacientes (OPAS, 2024).

As diretrizes do Ministério da Saúde do Brasil baseiam-se em um número limitado de fármacos, sendo os antimoniais pentavalentes os fármacos de primeira linha para ambas as doenças (LTs e LV). No entanto, a administração parenteral, ciclos prolongados de aplicações diárias, alta toxicidade, e necessidade de monitoramento de funções basais sobrecarrega os sistemas de saúde e pode levar ao abandono do tratamento. Adicionalmente, o relato de resistência parasitária a estes fármacos, embora não completamente elucidada, é uma preocupação crescente, pois compromete a eficácia terapêutica e contribui para a manutenção da transmissão (Ministério da Saúde, 2014a).

A DNDi tem investido em pesquisas de novos princípios ativos para fármacos mais seguros, tratamentos mais curtos e com menos efeitos colaterais. Com alvo nas leishmanioses, foram triadas 11 ocorrências promissoras pertencentes a sete séries químicas, além de estudos clínicos focados na associação de medicamentos já utilizados na clínica (DNDi, 2024). Um dos maiores desafios atuais continua sendo a ausência de vacinas eficazes para uso humano, devido a obstáculos que impedem seu avanço, como a complexa resposta imune gerada na presença do parasito, a diversidade de espécies de Leishmania e as diferenças epidemiológicas regionais (Ayala et al., 2024).

Assim, é essencial o fortalecimento das ações de vigilância (incluindo a notificação compulsória de casos humanos e animais), de estratégias integradas de prevenção e controle, com foco em reservatórios animais e vetores, além da garantia de acesso ao diagnóstico precoce e tratamento adequado em tempo oportuno. Ações de educação em saúde e políticas públicas sustentáveis também são fundamentais para reduzir a incidência e interromper a cadeia epidemiológica (Ministério da Saúde, 2014a). Medidas como a eutanásia de cães infectados ainda que continue prevista programaticamente vem sendo cada vez menos empregada. No Brasil, desde 2016, o tratamento de cães com LV é autorizado, utilizando fármacos como miltefosina e alopurinol, associados a medidas preventivas, como o uso de coleiras impregnadas com inseticidas (deltametrina 4%), que apresentam eficácia como repelentes de flebotomíneos, e que são distribuídas pelo Ministério da Saúde desde 2021 em municípios prioritários (Ministério da Saúde, 2021). Contudo, sua eficácia diminui com o tempo, exigindo monitoramento constante e substituição periódica (Ministério da Saúde, 2014b).

É fundamental considerar a regionalidade das leishmanioses, pois há mais de 20 espécies de Leishmania patogênicas para os seres humanos e múltiplos vetores envolvidos em diferentes áreas geográficas. Tal diversidade determina o tipo de transmissão, que pode ser zoonótica (envolvendo animais) ou antroponótica (mantida entre humanos). No Brasil, a transmissão é predominantemente zoonótica e o controle da LV em humanos é intrinsecamente dependente do manejo eficaz da leishmaniose visceral canina (LVC), seu principal reservatório doméstico. Equipes de saúde de municípios brasileiros enfrentam enormes dificuldades operacionais para executar as diretrizes do programa de controle (Zuben; Donalísio, 2016). No caso dos cães, vacinas já foram desenvolvidas, mas no território nacional, a inconstância de sua disponibilidade comercial aliada à eficácia limitada e variável, não permitem posicioná-las programaticamente como importante estratégia profilática (Dantas-Torres et al., 2020; De Pádua et al., 2025). Além disso, a vacinação canina não impede completamente a infecção, apesar de reduzir a carga parasitária e a probabilidade de transmissão, devendo ser vista como uma medida complementar, e não substitutiva, das demais estratégias de controle.

O controle efetivo dessas enfermidades demanda a implementação de estratégias intersetoriais e coordenadas, envolvendo a integração entre vigilância epidemiológica, medicina veterinária, pesquisa científica e formulação de políticas públicas de saúde. Ademais, as dimensões socioculturais e econômicas e de acesso a serviços de saúde que permeiam populações em contextos de vulnerabilidade social ampliam a complexidade epidemiológica do agravo, configurando um desafio substancial e multifacetado às estratégias de vigilância e controle das leishmanioses.

Finalmente, propomos como relevantes as seguintes frentes de estudo e ações para o controle das leishmanioses ao nível regional/nacional:

  • Ampliação de financiamento e divulgação dos trabalhos sobre as leishmanioses, das fases pré-clínicas de desenvolvimento até o manejo clínico e epidemiológico;
  • Disponibilização do diagnóstico precoce, com acesso a testes mais sensíveis e específicos e de fácil manejo no ponto do atendimento;
  • Incentivo à posse responsável de cães, ao uso de coleiras impregnadas com repelentes e prevenção de exposição a flebotomíneos;
  • Mapeamento e monitoramento intersetorial de zonas periurbanas reconhecidas como potenciais focos de circulação de parasitos e vetores;
  • Reforço de vigilância entomológica e epidemiológica em áreas periurbanas dos municípios, considerando animais domésticos e silvestres;
  • Treinamento de equipes de saúde para manejo de casos e de complicações clínicas em todos os níveis de assistência aos pacientes.

Esquistossomose

A esquistossomose é uma doença causada por parasitos trematódeos do gênero Schistosoma. A forma urogenital é causada por Schistosoma haematobium, enquanto a forma intestinal é provocada por diversas outras espécies, incluindo S. mansoni, S. japonicum, S. intercalatum, S. mekongi, S. guineensis e S. malayensis(Gryseels et al., 2006). Estima-se que cerca de 250 milhões de pessoas estejam atualmente com esquistossomose e mais de 700 milhões de indivíduos encontram-se em risco de contrair a doença, sendo o continente africano e o Brasil as regiões com maior prevalência. No entanto, em razão da subnotificação e da baixa cobertura diagnóstica, acredita-se que o número real de pessoas infectadas possa variar entre 391 e 587 milhões, resultando em perdas anuais estimadas entre 1,7 e 4,5 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade (Disability Adjusted Life Years – DALYs) (Hay et al., 2017; OMS, 2022).

No Brasil, o agente etiológico da esquistossomose é o S. mansoni.  De acordo com os dados mais recentes do Ministério da Saúde, cerca de 1,5 milhão de pessoas vivem em áreas de risco. Em 2019, foram notificados 13.273 casos, correspondendo a uma prevalência de 3,22% e 593 óbitos(Ministério da Saúde, 2024c; OMS, 2022). Nas regiões mais afetadas, fatores como saneamento básico precário, condições socioeconômicas desfavoráveis e exposição frequente a corpos d’água contaminados contribuem para a manutenção do ciclo de transmissão. Apesar dos avanços alcançados por meio de campanhas de tratamento em massa, educação em saúde e melhorias em infraestrutura sanitária, a doença ainda representa um importante desafio de saúde pública.

A principal estratégia de controle e eliminação da esquistossomose é o acesso regular à quimioterapia (Toor et al., 2019). No entanto, a pandemia covid-19 em 2019 resultou na interrupção das campanhas de tratamento em massa, principalmente em países africanos. Esse cenário pode levar a um aumento nas infecções por S. mansoni e S. haematobium, além de comprometer os avanços alcançados no combate à esquistossomose em vários países nos próximos anos(Kura et al., 2021). Em resposta a esses desafios, no ano de 2022, a OMS lançou um conjunto de recomendações que visam apoiar os programas nacionais de países endêmicos na redução da morbidade, na eliminação da esquistossomose como problema de saúde pública e no avanço em direção à interrupção completa da transmissão(OMS, 2022).

As manifestações clínicas da esquistossomose aguda são marcadas por dores abdominais, sangue nas fezes, perda de apetite e diarreia(Souza et al., 2011). A fase crônica é influenciada por diversos fatores, incluindo a linhagem do parasito, a carga parasitária adquirida, a idade do indivíduo, seu estado nutricional, a resposta imunológica e tempo de infecção. Cerca de 90% dos casos são assintomáticos ou com sintomas discretos e inespecíficos que tendem a desaparecer com ou sem tratamento, com eliminação de ovos do parasita nas fezes(Andrade, 2004). Já manifestações crônicas graves incluem as formas hepatointestinal, hepatoesplênica e neurológica, todas diretamente relacionadas à formação e persistência dos granulomas (Elbaz; Esmat, 2013; Souza et al., 2011). A evolução silenciosa da infecção até as formas graves da doença representa uma das principais dificuldades para o diagnóstico precoce(Ministério da Saúde, 2024c).

O diagnóstico da esquistossomose baseia-se principalmente na detecção dos ovos do parasito nas fezes, por meio de exames parasitológicos como o método de Kato-Katz, que também permite estimar a carga parasitária. Exames sorológicos podem ser utilizados como complementares, especialmente para indicar infecções passadas ou ativas. Em casos suspeitos de formas hepatoesplênicas ou outras manifestações graves, a ultrassonografia é empregada para avaliar alterações no fígado, baço e sistema venoso abdominal. Quando há suspeita de comprometimento do sistema nervoso central, pode-se recorrer à tomografia computadorizada ou à ressonância magnética.

Apenas um fármaco está disponível para tratamento da esquistossomose desde o final da década de 70, o praziquantel (PZQ), sendo reconhecido por sua eficácia contra todas as espécies de Schistosoma que afetam os seres humanos(Corrêa et al., 2019; Raso et al., 2004). Quando expostos PZQ in vitro, os parasitos apresentam um rápido influxo de cálcio, causando paralisia muscular e danos tegumentares que comprometem sua sobrevivência. O sucesso do PZQ deve-se à sua alta eficácia, segurança, baixo custo e facilidade de administração, sendo geralmente aplicado em dose única oral, o que o torna ideal para áreas com recursos limitados (Cupit; Cunningham, 2015). O Arpraziquantel, é uma formulação do PZQ desenvolvida para tratar a esquistossomose em crianças de 3 meses a 6 anos, como alternativa mais palatável a ser regulamentada e disponibilizada, para aumentar a aceitação e adesão ao tratamento em populações pediátricas (Pediatric Praziquantel Consortium, 2024). O PZQ é eficaz apenas contra os vermes adultos, o que representa um desafio para os programas de tratamento em áreas endêmicas, onde mais de um estágio do parasito podem estar presentes no paciente. Além disso, o uso generalizado do PZQ em campanhas de tratamento em massa tem levado ao desenvolvimento de tolerância/resistência nas populações de parasitos(Botros; Bennett, 2007; Fallon; Doenhoff, 1994; Le Clec’h et al., 2021)evidenciando a necessidade da pesquisa de novos fármacos.

Nenhum novo composto alcançou, até o momento, sucesso clínico comparável ao PZQ. Estudos anteriores demonstram que diferentes linhagens de S. mansoni apresentam respostas variáveis ao PZQ e a outros compostos experimentais, o que indica que fatores genéticos e fisiológicos intrínsecos aos parasitos podem estar associados à heterogeneidade de resposta ao tratamento, sendo um dos principais entraves à descoberta e desenvolvimento de novos fármacos eficazes contra a esquistossomose(Corrêa et al., 2019; Frezza et al., 2013; Valentini; Mendes; Allegretti, 2025). Apesar dos esforços e avanços significativos na pesquisa por candidatos vacinais ao longo das últimas três décadas, nenhuma foi aprovada para a prevenção ou tratamento da esquistossomose(Sautto et al., 2019).

Diante desse cenário, torna-se evidente que o controle sustentável da esquistossomose no país depende da implementação de ações integradas e contínuas, que incluam:

  • O diagnóstico precoce e o tratamento regular;
  • O monitoramento epidemiológico e a educação sanitária e investimentos em saneamento ambiental;
  • Garantia de acesso ao saneamento básico, uso, ocupação e irrigação adequada do solo e monitoramento do hospedeiro intermediário;
  • Estímulo à inovação científica voltada à busca de novas alternativas terapêuticas e vacinais, em alinhamento com as metas globais estabelecidas pela OMS.

Hanseníase    

A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada por Mycobacterium leprae e M. lepromatosis, ainda um relevante desafio para a saúde pública em várias regiões endêmicas do mundo. Embora registrem-se melhoras no diagnóstico e tratamento, a hanseníase está listada entre as doenças negligenciadas pela OMS e OPAS, com propostas de eliminação da transmissão até 2030. No Brasil, a “Estratégia Global 2021-2030: rumo a zero hanseníase” (OMS, 2021) foi adotada pelo Ministério da Saúde com a missão de um Brasil sem a doença (Ministério da Saúde, 2024d).

Segundo dados da OMS, mais de 120 países reportam casos anuais, com a maior carga da doença concentrada no Sudeste Asiático, África e Américas. O Brasil e a Índia concentram quase 80% dos casos no mundo, países com altas cargas da doença, associada à pobreza, aglomeração populacional e dificuldades no acesso aos serviços de saúde. No Brasil, áreas de alta endemicidade ocorrem principalmente no Centro-Oeste, Norte e Nordeste, sendo os estados do Mato Grosso, Maranhão, Pará, Tocantins e Rondônia os que apresentam as taxas de detecção mais elevadas (Ministério da Saúde, 2024d). A distribuição espacial desigual da doença revela as profundas iniquidades em saúde e desenvolvimento socioeconômico no país.

Trata-se de uma infecção crônica que afeta a pele, os nervos periféricos, podendo acometer também a mucosa do trato respiratório e outros tecidos. Indivíduos de todas as idades e gêneros são suscetíveis e a transmissão ocorre por vias respiratórias (tosse, secreções nasais), com um longo período de incubação entre a infecção e os sintomas, de 2 a 7 anos. Em países como os Estados Unidos da América, a doença é considerada zoonótica e tem os tatus como reservatório reconhecido.

A doença se manifesta por meio de um espectro clínico variado, influenciado pela resposta imune do indivíduo frente à infecção – da forma indeterminada, tuberculoide, dimorfa até as virchowiana (lepromatosa). Além disso, em todos os quadros, podem ocorrer episódios de reações hansênicas que são manifestações agudas ou subagudas de hiperreatividade imunológica, que exacerbam o quadro clínico e o acometimento neural. As sequelas neurológicas constituem a principal morbidade da hanseníase podendo resultar em deformidades e incapacidades físicas, sendo a principal causa infecciosa de deficiência física. As reações podem acontecer mesmo após o término do tratamento com antibióticos que matam os bacilos.

Entre os principais sinais e sintomas destacam-se manchas claras (hipocrômicas) características da forma indeterminada, e que se tornarão infiltradas ou elevadas e avermelhadas na pele, chegando a formar nódulos difusos em pacientes com formas polares virchowianas. O diagnóstico clínico pode ser complementado com a detecção de bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR) em esfregaços intradérmicos. O diagnóstico precoce e o tratamento oportuno com poliquimioterapia (PQT) são essenciais para interromper a transmissão e prevenir as incapacidades levando à cura da doença.

A detecção de casos em menores de 15 anos indica transmissão ativa e exposição recente à infecção, presente em áreas de alta endemicidade. Outro indicador sensível é a proporção de casos novos diagnosticados já com deformidades físicas visíveis, indicando falhas no diagnóstico precoce e atraso no acesso aos serviços de saúde e no diagnóstico, mantendo a transmissão e o estigma associado à doença. O estigma não repercutiu somente na dimensão social, mas no atraso do diagnóstico, devido ao medo da discriminação associada (Delboni; Deps, 2021; Pinheiro; Simpson, 2017). A desconstrução do estigma e preconceito com a hanseníase é uma meta da Estratégia Nacional para Enfrentamento à Hanseníase 2024-2030: “Dar providência a 100% das manifestações sobre práticas discriminatórias em hanseníase registradas nas ouvidorias do SUS” (Ministério da Saúde, 2024d). A negligência em relação à doença pode ser notada na ausência de investimento na área de investigação e desenvolvimento de novas tecnologias para diagnóstico e tratamento.

A poliquimioterapia (PQT) preconizada pela OMS, adotada pelo Ministério da Saúde e disponibilizada no SUS, é composta por três fármacos, rifampicina, dapsona e clofazimina administradas por 6 (para pacientes paucibacilares) e 12 meses (para multibacilares), além de fármacos de segunda linha como ofloxacino e minociclina, para os casos de intolerância e resistência (OMS, 1994; Brasil, 2025). Além da PQT, a vacina Bacilo de Calmette e Guerin (BCG), normalmente utilizada para prevenir tuberculose, tem sido utilizada para a imunoprofilaxia a profilaxia dos contactantes de pacientes com hanseníase e sem a doença.

A resistência aos fármacos para tratamento da hanseníase é um problema emergente de saúde pública, particularmente importante em países com alta carga da doença como a Índia, Colômbia e Brasil. Embora o tratamento seja eficaz, há crescente preocupação com a resistência antimicrobiana desde a década de 70 no Brasil, registrada em recomendações de vigilância, e mais recentemente a partir de investigação de casos e monitoramento de mutações específicas. A partir de 2015, o monitoramento em centros de referência foi intensificado e ampliado no país (Andrade et al., 2022), em consonância com o Plano de Ação Global para enfrentar a resistência da OMS (OMS, 2014). Casos da doença resistentes ao tratamento polifarmacologico padrão tem sido relatados, principalmente com a dapsona (Bezerra; Ferreira Velho; França, 2024; Cambau et al., 2018; Chagas et al., 2021). Entretanto, a magnitude da resistência antimicrobiana em hanseníase não é totalmente conhecida no país, dificultando a avaliação sobre seu impacto na carga da doença no Brasil (“Ministério da Saúde”, 2023b; Rocha et al., 2012).

A hanseníase no Brasil se apresenta em cenários diversos e contextos epidemiológicos de endemicidade distintos, uma doença de populações negligenciadas. A Coordenação-Geral de Vigilância da Hanseníase e Doenças em Eliminação (CGHDE) desenvolveu estratégia nacional para enfrentamento da hanseníase 2024-2030 que visa reduzir a carga da enfermidade no Brasil. entretanto ainda há muitos desafios, como:

  • Necessidade de diagnóstico precoce e preciso; adesão ao tratamento e acompanhamento; monitoramento de paciente e contactantes;
  • Coordenação entre atenção básica, especializada e reabilitação do paciente e acesso aos serviços de saúde;
  • Abordar o estigma e discriminação para a redução de barreiras sociais;
  • Abordar a transmissão residual especialmente em contatos próximos e comunidades mais vulneráveis;
  • Monitoramento de hanseníase zoonótica em áreas de risco;
  •  Incremento de pesquisas científicas para aprimoramento de testes diagnósticos e opções terapêuticas.

Malária

A malária é uma doença parasitária tropical e subtropical transmitida por mosquitos do gênero Anopheles. Atualmente, encontra-se endêmica em 83 países, sendo responsável, em 2023, por aproximadamente 263 milhões de casos clínicos e 597.000 óbitos (OMS, 2024b). O agente etiológico é um protozoário intracelular com seis espécies que infectam o ser humano (P. falciparum, P. vivax, P. malariae, P. ovale curtisi e P. ovale wallikeri), entre as quais P. falciparum e P. vivax são as mais relevantes. A maior parte dos óbitos ocorre em decorrência de infecções por P. falciparum na África Subsaariana, enquanto o P. vivax é mais prevalente na Ásia e na América do Sul, respondendo por cerca de 3% do total global de casos. Brasil, Colômbia e República Bolivariana da Venezuela concentram mais de 86% das ocorrências da região (OMS, 2024b). No Brasil, foram registrados 138.493 casos de malária em 2024, número ligeiramente inferior ao de 2023, com concentração dos casos (99%) na Região Amazônica (Ministério da Saúde, 2025b).

Um dos principais entraves à eliminação da malária está nas diferenças biológicas e epidemiológicas entre P. vivax e P. falciparum. O P. vivax apresenta curto ciclo esporogônico, rápida produção de gametócitos e hipnozoítos hepáticos latentes, fatores que favorecem recaídas, reintrodução da doença e maior dificuldade de controle (White, 2011). Já o P. falciparum é responsável pela maioria dos casos graves, mas seu ciclo mais longo e a presença tardia dos gametócitos tornam a transmissão mais suscetível ao tratamento oportuno e às ações de controle vetorial (Stepniewska et al., 2008). Além dessas diferenças, infecções assintomáticas por ambas as espécies representam um desafio adicional à eliminação, pois podem estar associadas a altos níveis de parasitos circulantes, atuando como reservatórios e mantendo o ciclo. Em áreas de alta transmissão, a exposição contínua ao Plasmodium leva ao desenvolvimento de uma imunidade parcial, favorecendo o estado de portador assintomático, que contribui de forma significativa para a persistência da doença (Poespoprodjo et al., 2023).

As estratégias voltadas ao controle e à eliminação da malária estão fundamentadas no pilar da garantia do acesso universal à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento da doença. Dentre os desafios encontrados destaca-se a limitação dos testes diagnósticos rápidos, que em sua maioria detectam apenas o antígeno rico em histidina 2 (HRP2) de P. falciparum, permitindo que parasitos com deleções no gene pfhrp2 escapem da detecção, um fenômeno que já alcança prevalência superior a 15% no Brasil (Bally et al., 2024). Além disso, o surgimento e a disseminação da resistência parcial à artemisinina e suas terapias combinadas, bem como a resistência a outros antimaláricos como a cloroquina – essencial para o tratamento de infecções por P. vivax na região amazônica, local onde a resistência já foi relatada (Alecrim; Alecrim; Macêdo, 1999; Filho et al., 2007; Marques et al., 2014) – colocam em risco a eficácia dos tratamentos de primeira linha, exigindo vigilância terapêutica contínua.

Além da resistência farmacológica, vem sendo observada a resistência aos inseticidas piretróides, já confirmada em diversos países endêmicos, incluindo o Brasil, levantando preocupações quanto à eficácia das atuais estratégias de controle vetorial (Amorim et al., 2025). Por fim, a disseminação do vetor invasor Anopheles stephensi, associado ao risco de intensificação da transmissão em áreas urbanas, também constitui uma ameaça crescente que requer monitoramento e resposta rápida por parte dos sistemas nacionais e globais de saúde (Liu et al., 2024).  

Nos últimos anos, a Medicines for Malaria Venture (MMV) tem liderado esforços globais, coordenando uma linha de desenvolvimento que hoje reúne 9 candidatos ao tratamento da malária em fases iniciais (pré-clínicas ou em voluntários humanos) e outros 11 estudos já em etapas avançadas de testes clínicos ou processos regulatórios. Avanços importantes vêm sendo alcançados, como a aprovação da tafenoquina, que atua contra hipnozoítos de P. vivax e representa um marco como estratégia de controle e eliminação da malária. O Brasil teve papel de destaque na condução dos ensaios clínicos que possibilitaram sua validação e foi um dos primeiros países a implementar o medicamento no SUS, reforçando seu protagonismo no cenário internacional de combate à doença (Brito et al., 2024).

No entanto, a maioria dos fármacos em uso ou em desenvolvimento ainda se concentra no estágio sanguíneo da infecção, evidenciando a necessidade de se desenvolver novos fármacos, com mecanismos de ação distintos aos já existentes, com a validação e exploração de novos alvos moleculares (Siqueira-Neto et al., 2023, MMV, 2025; Okombo; Fidock, 2025). Estratégias que avancem no desenvolvimento de terapias direcionadas a outras fases do ciclo, como os estágios hepático e gametocítico, são cruciais para alcançar a eliminação completa do parasito (Flannery; Chatterjee; Winzeler, 2013).

As vacinas contra malária recentemente recomendadas pela OMS, Mosquirix® (RTS,S/AS01E®) e R21/Matrix-M®, destinadas a regiões de média a alta endemicidade, conferem proteção parcial apenas contra P. falciparum. Contudo, ainda não existe nenhuma vacina contra P. vivax, espécie predominante nas Américas, o que evidencia uma grande lacuna no arsenal preventivo disponível. Embora a mortalidade associada à infecção por P. vivax seja considerada menor em comparação ao P. falciparum, sua morbidade aumentou de forma significativa nos últimos anos, em especial devido ao surgimento de resistência à cloroquina (Ferreira et al., 2021; Price et al., 2012), além de casos graves de malária por P. vivax, incluindo anemia, síndrome do desconforto respiratório, malária cerebral, desnutrição e insuficiência renal (Menkin-Smith; Winders T., 2025). Esse cenário reforça a urgente necessidade de que o desenvolvimento de vacinas seja colocado como prioridade nas agendas de pesquisa globais e nacionais, visando ampliar a eficácia e a abrangência das estratégias de imunização contra diferentes espécies de Plasmodium.

As mudanças climáticas exercem um impacto importante sobre a dinâmica da doença, uma vez que tanto o ciclo extrínseco do desenvolvimento do parasito Plasmodium spp. (dentro do mosquito vetor) quanto o ciclo de vida do vetor são fortemente dependentes da temperatura. Alterações nos padrões de precipitação influenciam diretamente a disponibilidade de criadouros para mosquitos Anopheles spp.. O aumento das temperaturas em regiões de maior altitude, favorecendo a expansão e adaptação do vetor, tem permitido a expansão da malária para áreas não endêmicas anteriormente. Eventos climáticos extremos, como enchentes e secas severas, afetam o comportamento e a densidade populacional dos vetores, criando condições propícias para surtos localizados e dificultando ainda mais as ações de controle (Arisco et al., 2025; Obeagu; Obeagu, 2024).

A malária, longe de ser uma doença do passado, continua a se adaptar às pressões ambientais e humanas. Por isso, a resposta científica e política deve ser igualmente dinâmica, inovadora e global. Diante desse cenário complexo, fica claro que, para alcançarmos as metas de controle e eliminação da malária, precisamos ir além das estratégias atualmente utilizadas.

  • Reavaliar as abordagens de prevenção, controle e eliminação que considerem parasito, vetor e mudanças climáticas;
  • Maiores investimentos em pesquisa de novas terapias e estratégias de prevenção;
  • Métodos de diagnóstico mais sensíveis e acessíveis;
  • Ampliação do monitoramento da resistência dos Plasmodium spp. aos antimaláricos e do vetor aos inseticidas;
  • Incremento das estratégias de prevenção da transmissão não-vetorial da malária.

CONCLUSÃO

A P&D de novos fármacos, vacinas e plataformas diagnósticas, especialmente para doenças negligenciadas e (re)emergentes, revelam-se cruciais em um contexto global marcado por acentuada desigualdade e vulnerabilidade social, mudanças climáticas, degradação ambiental, intensificação de mobilidade de pessoas, resistência antimicrobiana e pela ameaça constante de novas pandemias. O Brasil possui um potencial enorme para contribuir na definição de políticas públicas para o enfrentamento de desafios de relevância global, com um ambiente de inovação tecnológica e progresso científico no cenário internacional. Por exemplo, o Brasil abriga pesquisas de excelência em vacinas contra doenças negligenciadas; no entanto, há escassez de plantas industriais com capacidade para produção sob Boas Práticas de Laboratório (BPL) e de Fabricação (BPF) de IFAs. Nos últimos 15 anos, observou-se importante avanço no desenvolvimento de vacinas contra Doença de Chagas, leishmaniose visceral, malária vivax e esquistossomose. Tais vacinas são inéditas e estratégicas para o SUS.

As doenças negligenciadas e socialmente determinadas ainda impõem grandes desafios à ciência e à saúde pública, marcados por lacunas de conhecimento e fragilidades na prevenção, controle e tratamento. Para enfrentá-los, é essencial ampliar os investimentos governamentais em universidades e institutos de pesquisa, garantir fomento contínuo à pesquisa básica e aplicada, investir na formação de pesquisadores de excelência e promover ambientes favoráveis à cooperação público-privada. O investimento em inovação e políticas de fortalecimento da pesquisa científica são condições imprescindíveis para que o Brasil tenha condições de não apenas enfrentar os desafios endêmicos que acometem pacientes e populações vulneráveis, mas exerça um papel de protagonismo, em âmbito global, na resposta às doenças negligenciadas, emergentes e reemergentes.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da UNICAMP pelo apoio. A Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (Drugs for Neglected Diseases initiative, DNDi), é grata aos seus doadores, públicos e privados, que têm contribuído à DNDi desde sua criação em 2003. A lista completa de doadores da DNDi pode ser encontrada em: www.dndi.org/about/donors/.

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