A jornalista e escritora Daniela Arbex — residente do Programa Hilda Hilst do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp (IdEA) — foi a convidada do podcast Analisa, da Unicamp, em entrevista conduzida por Thaís Pimenta. Ao longo da conversa, Arbex detalhou os bastidores de sua trajetória, o compromisso ético com vítimas e familiares e os desafios de transformar livros-reportagem em séries e filmes sem perder a integridade das histórias.
Segundo Arbex, seu trabalho vai muito além da publicação. “Não sou só autora de um livro que vendeu; sou jornalista e tenho responsabilidade com as histórias — e com o país”, comenta. Para ela, a escuta deve sempre reconhecer a pessoa para além do trauma, resgatando identidade, memória e potência de quem fala. Esse cuidado, central em obras como Holocausto Brasileiro, Todo Dia a Mesma Noite, Arrastados e Longe do Ninho, orienta desde a apuração e a escrita até sua atuação como consultora nas adaptações para o audiovisual.
Ao lembrar o convite da HBO para adaptar Holocausto Brasileiro e, depois, a série da Netflix inspirada em Todo Dia a Mesma Noite, Arbex explicou por que faz questão de participar ativamente de roteiros, filmagens e decisões criativas: para garantir fidelidade factual, respeito às vítimas e evitar a revitimização. “Não entrego o livro e me afasto. Acompanho porque devo isso às famílias”, destacou. No caso da Boate Kiss, por exemplo, a equipe reconstituiu cenários e envolveu milhares de figurantes; cada escolha exigiu rigor e cuidado ético, sempre com sua supervisão.
A autora também relatou o peso emocional de coberturas como a da Boate Kiss, que exigiram terapia e uma reorganização de rotinas de trabalho, e como obras como Os Dois Mundos de Isabel lhe ofereceram “respiro e restauração” em meio a projetos mais densos. A partir dessa experiência, estruturou um modo de trabalho que preserva sua saúde sem abrir mão do compromisso com a memória coletiva: “Esquecer é negar a história. Registrar é garantir existência”, ressalta a jornalista.
Sobre Arrastados (em produção audiovisual com previsão de estreia em 2026), Arbex defendeu que o debate público precisa ultrapassar o choque inicial e se converter em ação: marcos regulatórios efetivos, fiscalização independente e prioridade absoluta à vida. Para ela, não se trata de negar a mineração, mas de exigir responsabilidade socioambiental e impedir que laudos frágeis mantenham populações sob risco permanente. Já em Longe do Ninho, destacou a vulnerabilidade de jovens atletas e denunciou a negligência com a formação escolar e a saúde mental, chamando atenção para a romantização do “sonho do futebol” que muitas vezes apaga outras possibilidades de ascensão social.
Ao final, Arbex reiterou que continua acompanhando cada história após o lançamento dos livros e das séries. Para ela, publicar é apenas uma etapa de um pacto de longo prazo com as pessoas, com a verdade e com o interesse público.
Acompanhe a entrevista completa à Thais Pimenta no vídeo abaixo.