Instituto de Estudos Avançados da Unicamp
Resumo – Este trabalho apresenta, resumidamente, o Instituto de Estudos Avançados da Unicamp (IdEA), contextualizando a sua criação enquanto consequência de órgãos anteriores da Universidade, em particular em modelos baseados em residências artística e científica e grupos de estudos, caracterizados em eixos de ação. Para dar curso às suas finalidades, o IdEA é estruturado em quatro áreas operacionais, sendo elas Administração, Comunicação, Programas e Estudos, os quais permitem acolher iniciativas do livre pensar.
Palavras-chave: estudos avançados; grupos de estudos; residência rrtística; residência científica.
APRESENTAÇÃO
Todas as áreas do conhecimento traduzem, no limite, a liberdade do espírito humano. O simples fato de elas trazerem satisfação à alma, voltada para a própria elevação é a justificativa do que necessitam. Ao longo da história da ciência, parte considerável das grandes descobertas, benéficas para a humanidade, foram feitas por homens e mulheres movidos não pelo desejo de serem úteis, mas também por satisfazerem a sua curiosidade. Tais palavras do educador Abraham Flexner (1939) ecoam-nos, fazendo-nos crer em um espaço acadêmico para o desenvolvimento do livre pensamento.
BREVE HISTÓRIA
O primeiro Instituto de Estudos Avançados, idealizado por Abraham Flexner, estabeleceu-se em Princeton (Figura 1), nos Estados Unidos, no início da década de 1930. Sem vínculo universitário, a instituição foi criada com a finalidade de estimular o esforço intelectual livre e transdisciplinar, fazendo-o, por exemplo, por meio do oferecimento de auxílio financeiro, instalações, tempo e tranquilidade a pesquisadores para períodos de reclusão, sem qualquer cobrança quanto a objetivos e finalidades práticas de projetos propostos. O Instituto de Estudos Avançados de Princeton atuava na contramão do processo de departamentalização do conhecimento, que assinalou o desenvolvimento do modelo tradicional de universidade, e da sobreposição de demandas acadêmicas e administrativas ao trabalho de pesquisa (Flexner, 1939). Passaram pelo Instituto diversos cientistas que lhe garantiram reputação internacional, entre eles Albert Einstein (Goddard, 2011).

Fonte: LinkedIn, 2025.
A experiência de Princeton influenciou a criação de outros Institutos de Estudos Avançados (IEAs) nos Estados Unidos. Entretanto, os IEAs avançaram para outros continentes após quarenta anos, com a criação, na Holanda e em 1971, do Netherlands Institute for Advanced Studies in the Humanities and Social Sciences (Funari; Pedrosa, 2011). Na América Latina, o primeiro IEA foi inaugurado pela Universidade de São Paulo (USP), em 1986. Segundo Funari e Pedrosa (2011), o então crescimento dos IEAs baseados em Universidades foi vertiginoso, com a existência de cinco em 1986, 13 em 2000, 20 em 2005, 32 em 2010. Estima-se que existam hoje, globalmente, cerca de 100 Institutos sediados em Universidades (Padberg, 2020), sendo em torno de 10 % baseados em universidades brasileiras.
A GÊNESE DO IdEA
A gênese do Instituto de Estudos Avançados (IdEA), na Unicamp, remonta à criação do Programa do Artista Residente (PAR), proposto pelo prof. Carlos Vogt em setembro de 1984, à luz de Flexner, que visou facultar a convivência com artistas de nome e renome nacionais e internacionais, e de outro, oferecer aos artistas de várias áreas “apoio institucional e material que poderão reforçar as condições de sua produção”. Esse programa foi aprovado e publicado na portaria GR 025/85, de 04 de fevereiro de 1985. Vinte e cinco anos depois, ancorado na Resolução GR-012/2010, de 05/03/2010, posteriormente modificada pela Resolução GR-039/2012, de 11/09/2012, foi criado o Centro de Estudos Avançados da Unicamp (CEAv), diretamente subordinado ao Gabinete do Reitor.
O CEAv apresentava-se com o objetivo de promover discussão e pesquisas avançadas, voltadas à criação do conhecimento de alto nível, visando ao desenvolvimento da sociedade em todos os seus aspectos. O CEAv organizava-se por meio de Grupos de Estudos, comprometidos com a relevância acadêmica, sendo eles: Ensino Superior; Esporte; Relações China/Brasil; Humanidades. O CEAv, publicou a revista Estudos Avançados Unicamp on line e o quadrimestral Ensino Superior Unicamp tanto em papel como em versão eletrônica. Além disso, o CEAv estimulou a difusão do conhecimento por meio da RTV Unicamp, com entrevistas de diversos especialistas (Funari; Pedrosa, 2011).
Em 2013, o Centro de Estudos Avançados da Unicamp passa a denominar-se Fórum Pensamento Estratégico – (PensEs), por força da Resolução GR-042/2013, de 16/07/2013. Diretamente vinculado ao Gabinete do Reitor, o PenSes direcionava-se a promover discussões que contribuíam para a formulação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da sociedade em todos os seus aspectos. O PensEs, manteve basicamente as finalidades do CEAv, destacando-se, em abril de 2017, o lançamento da Coleção PENSES, a qual cobriu assuntos diversos como violência de gênero, medicalização da sociedade, crise hídrica, pré-sal, educação e esporte.
A partir do amálgama do Programa do Artista Residente, criado em 1985, na gestão do reitor Paulo Renato, com os Grupos de Estudos, oriundo do CEAv, criado em 2010, na gestão do reitor Fernando Costa, da reestruturação do CEAv por meio do PenSes, na gestão do reitor Tadeu Jorge, foi criado, no final de 2017, na gestão do reitor Marcelo Knobel, por meio da Resolução GR-043/2017 (substituída pela Resolução GR-010/2019), o Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp, como espaço de fomento a reflexões, estudos, produções e trocas científico-culturais livres, inovadoras, transdisciplinares e interinstitucionais nos diferentes campos do conhecimento científico, da cultura e das artes.

Fonte: autoria própria.
De 2017 a 2021, o IdEA foi coordenado pelo Prof. Dr. Álcir Pécora, do Instituto de Estudos da Linguagem, cuja gestão lançou as bases organizacionais do IdEA, além de estimular parcerias extramuros para a Unicamp, assim como estabeleceu a sede própria para o Instituto (Figura 2). No quadriênio 2021 a 2025, o IdEA foi coordenado pelo Prof. Dr. Cristiano Lyra Filho, da Faculdade de Engenharia Elétrica, que impulsionou os programas de residências. A partir de 2025, o IdEA é coordenado pelo Prof. Dr. Marco Aurélio Cremasco, da Faculdade de Engenharia Química, caracterizando o início da gestão pela reestruturação do órgão e retomada das ações temáticas dos Grupos de Estudos, assim como com a reformulação de estratégias midiáticas.
FINALIDADES E ATUAÇÕES DO IdEA
Tendo como herança as finalidades presentes tanto no CEAv quanto no PAR, o IdEA atua em diversas frentes, podendo-se citar: (a) acolher o estudo de temas fundamentais e inovadores, fomentando a discussão interdisciplinar da ciência e da cultura; (b) apoiar a excelência em pesquisa na Universidade, necessária para atingir uma posição de destaque nos grupos de liderança acadêmica nacional e internacional; (c) aumentar a atratividade da Unicamp como um ambiente de trabalho propício para pesquisadores nacionais e internacionais; (d) estimular a inserção da Universidade em discussões nacionais e internacionais; e (e) identificar novos âmbitos de especialização e de investigação. O Instituto, portanto, não ministra cursos de graduação, pós-graduação ou extensão como as unidades de ensino e pesquisa da Universidade. Sua atuação se dá por meio de quatro eixos programáticos:
I. Programa “Hilda Hilst” do Artista Residente [Deliberação CEPE-A-002/2006]. Com o DNA do PAR de 1985, o Programa “Hilda Hilst” teve início em 2018 e com orçamento próprio, o Programa acolhe na Universidade artistas nacionais ou estrangeiros, reconhecidos por sua atuação em quaisquer dos campos artísticos, por períodos de até seis meses. Os artistas são convidados a desenvolver projetos qualificados de divulgação de sua produção junto à comunidade acadêmica e demais interessados. Desde seu início, o IdEA já acolheu diversos artistas residentes, podendo-se citar o cineasta Ugo Giorgetti (em 2018), o escritor Marcelo Rubens Paiva (em 2023), posteriormente, ambos foram agraciados com o Prêmio Conrado Wessel, e mais recentemente a jornalista Daniela Arbex, que foi indicada ao Prêmio Juca Pato 2015 – Intelectual do ano, e vencedora do Prêmio Jabuti, no período de sua residência no IdEA.
II. Programa “Cesar Lattes” do Cientista Residente [Deliberação CONSU-A-013/2019]. Iniciado em 2019 e com orçamento próprio, o Programa acolhe na Universidade cientistas nacionais ou estrangeiros, reconhecidos por sua atuação em quaisquer dos campos científicos, por períodos de até seis meses. Os cientistas são convidados a desenvolver projetos qualificados de divulgação de sua produção junto à comunidade acadêmica e demais interessados. Desde 2019, o IdEA já recebeu diversos cientistas residentes, dentre os quais o físico Francesco Vissani (2019), a astrônoma Rosaly Lopes (2024), e a psicóloga Debora Tajer (2025).
III. Grupos de Estudos. Instâncias constituídas para possibilitar o encontro de intelectuais de dentro e de fora da Universidade, com o objetivo de estimular a reflexão sobre temas transdisciplinares, contemporâneos e inovadores, que desafiem as fronteiras do conhecimento; e de compartilhar as ideias e contribuições desenvolvidas por eles junto à comunidade acadêmica e ao público externo à Universidade. No final de 2025, o IdEA abrigava sete Grupos de Estudos, nos mais variados campos do saber:
1. Estratégias para o enfrentamento às doenças que afetam populações negligenciadas (Coordenação: Prof. Dr. Luiz Carlos Dias – Instituto de Química). O objetivo do grupo é o de refletir sobre as doenças que afetam populações negligenciadas no Brasil – aquelas socialmente determinadas – com o intuito de identificar lacunas prioritárias, tanto no âmbito da pesquisa pré-clínica quanto nas necessidades clínicas não atendidas. Foram selecionadas quatro doenças negligenciadas: Doença de Chagas, leishmanioses, hanseníase e esquistossomose. Os participantes do grupo de trabalho buscam mapear e discutir os principais desafios enfrentados pela comunidade científica, pelos pacientes e pela sociedade civil. Abordam-se temas como tratamentos disponíveis e novas alternativas terapêuticas, o acesso ao diagnóstico e ao tratamento, além da análise de dados epidemiológicos. Por fim, o grupo intenta elaborar recomendações estratégicas voltadas à comunidade acadêmica e científica, com o objetivo de ampliar a visibilidade sobre as doenças socialmente determinadas e de seus impactos sobre as populações negligenciadas.
2. Escola e convivência democrática: participação, diversidade e políticas públicas (Coordenação: Profa. Dra. Telma Vinha – Faculdade de Educação). O compromisso do grupo reside na promoção de uma escola pública, gratuita, de qualidade, emancipadora e socialmente referenciada. É composto por pesquisadores internos e externos à Unicamp e estudantes de pós-graduação. Tem como objetivos: (a) estudar e desenvolver modelos de transformação social em larga escala para atuar em questões complexas, especificamente a melhoria da qualidade da convivência em redes públicas de educação, que incluam processos participativos e sustentáveis, promotores de transformações pessoais, coletivas e culturais; (b) contribuir para a formulação de políticas públicas que favoreçam a melhoria do clima escolar e a formação para convivência ética e democrática, com ações de conscientização, prevenção e enfrentamento de todas as formas de violência, bem como a promoção da equidade, valorização da diversidade e fortalecimento dos valores democráticos nas instituições educativas. As atividades do grupo abrangem o desenvolvimento de estudos e seminários avançados com encontros e debates com pesquisadores nacionais e internacionais; a participação em centros e redes de pesquisa; e ações de disseminação direcionadas ao público externo. Além dos estudos e debates colaborativos, essa organização também permite que o grupo atue e dialogue com outros centros acadêmicos, redes de ensino e segmentos responsáveis pela formulação de políticas educacionais, como instituições governamentais e da sociedade civil.
3. Mudanças Climáticas e Eventos Extremos (Coordenação: Dra. Ana Maria Heuminski de Avila – Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura). Esse grupo origina-se a partir de uma constatação inegável e incômoda: o clima já mudou. O que antes era exceção, hoje consolida-se como regra. Ondas de calor mais letais, chuvas torrenciais, secas prolongadas e colapsos energéticos já fazem parte do nosso cotidiano. A pergunta que se impõe é: estamos, de fato, preparados para enfrentar esse cenário de transformações aceleradas? A cada ano que adiamos ações efetivas, acumulamos custos que já ultrapassam cifras bilionárias. Desastres que destroem cidades, perdas agrícolas que ameaçam a segurança alimentar, impactos diretos na saúde pública e sistemas de energia fragilizados compõem um quadro de riscos crescentes e interconectados. E quanto custa, de fato, não agir? Na economia, a inação significa instabilidade, retração da produtividade, aumento do endividamento público e privado, e desigualdades ampliadas. Na agricultura, considerando uma população crescente e cada vez mais urbana, com aumento do consumo de países em desenvolvimento, as safras agrícolas sofrem o colapso climático e, consequentemente, os alimentos se tornam mais caros e escassos a populações, principalmente as mais vulneráveis. Na saúde, observamos mais doenças respiratórias, mais epidemias transmitidas por vetores e uma maior mortalidade associada ao calor extremo. No setor de energia, a dependência de fontes não renováveis e a vulnerabilidade da infraestrutura atual significam atraso na transição energética necessária e riscos crescentes de desabastecimento. Este grupo propõe uma reflexão crítica, um debate interdisciplinar e um compromisso coletivo para ir além da constatação dos problemas. O grupo busca construir pontes entre ciência e sociedade, entre conhecimento técnico e tomada de decisão estratégica.
4. Saúde Mental e Violência: Tessituras dissidentes (Coordenação: Profa. Dra. Rosana Teresa Onocko Campos – Faculdade de Ciências Médicas). O grupo reúne saberes diversos para enfrentar as múltiplas formas de violência no Brasil. A proposta é a de pensar soluções criativas e interdisciplinares, rompendo com discursos hegemônicos e promovendo escuta e liberdade. A violência é marca fundacional no Brasil. Urge enfrentar essa mazela secular. O grupo tem como desafio produzir entrecruzamentos disciplinares para ajudar o país a superar a violência e suas repercussões e reproduções na saúde mental. Há, no grupo, pessoas de diversas disciplinas, pois se intenta articular visões e leituras advindas da saúde, como também de outras disciplinas indispensáveis para pensar o contemporâneo: compreender a relevância das interseccionalidades e os efeitos do racismo e do patriarcado, mapear antropologicamente a geografia das grandes cidades brasileiras e pensar como explorar as mídias para incidir na formulação de políticas no contemporâneo. Procuraremos tecer articulações interdisciplinares que fujam do lugar comum e das linhas de poder hegemonicamente constituídas. Por isso a escolha do termo Tessituras dissidentes. Almeja-se que seja um espaço criativo, lúdico, onde possa fluir o livre pensar.
5. Som e Processos Criativos (Coordenação: Prof. Dr. José Augusto Mannis – Instituto de Artes). Trata-se de um grupo transdisciplinar dedicado a estudos do som e processos criativos nos domínios da arte, comunicação, ciência e tecnologia. O âmbito de abordagem abrange diversos aspectos relativos ao som como: música, comunicação social, estética, cognição, criação e produção artística, indústria criativa, meio ambiente, ecologia, acústica, psicoacústica, psicofisiologia, saúde, educação, documentação e tecnologia da informação. Em processos criativos são abordadas idealização, concepção e construção de obras artísticas, análise musical, narrativas sonoras em contexto multimeios, criação artística assistida por meios tecnológicos, recursos criativos em arte e comunicação, sendo o interesse central do grupo, mas não exclusivo, os processos criativos relacionados às artes sonoras. Participam do grupo pesquisadores da Unicamp e de outras instituições brasileiras, que apresentam resultados de pesquisas, projetos criativos, trabalhos em andamento em seminários e discussões abordando problemas e desafios da área. Com sua atuação, o grupo busca fomentar a produção científica, o desenvolvimento tecnológico e a criação em arte e comunicação. Em 2025, o grupo dedicou-se ao tema Conrado Silva e a Música Nova no Brasil.
6. Teoria da Filologia (Coordenação: Profa. Dra. Isabella Tardin Cardoso – Instituto de Estudos da Linguagem). Esse grupo tem como objetivo central o estudo epistemológico de atividades exercidas no âmbito das disciplinas filológicas – amplamente reconhecidas como a base das ciências humanas em geral. Nos encontros Filologia inter scientias, membros e convidados do grupo promovem um diálogo entre a Filologia e outras ciências, tais como Educação, Ciências da Psiquê (Psicologia e Psicanálise), Direito, Física, estudo das Línguas Indígenas e Medicina. A “Filologia” é aqui entendida de modo amplo, a saber, como uma ciência que abrange o estudo de textos escritos, antigos e modernos, e cujas tarefas envolvem, por exemplo, a colação e classificação de manuscritos, o estabelecimento, edição e tradução de textos, a confecção comentários, a interpretação e discussão sobre exegese, produção e recepção. Dessa forma, o estudo da Filologia congrega diversas áreas e abordagens (por exemplo, linguísticas, literárias, filosóficas, históricas, dos estudos culturais), que se dedicam a tarefas subsumíveis sob o nome de Filologia, mas que não raro se encontram institucionalmente dispersas. A reflexão sobre a Filologia sob o viés do diálogo com os diversos campos do saber tem como objetivo fomentar um ambiente de reflexões sobre os contrastes e os pontos em comum entre as ciências, a fim de promover o autoconhecimento e eventuais cooperações.
7. O fim da certeza: tempo, caos e as novas leis da natureza (Coordenação: Prof. Dr. Gustavo Paim Valença – Faculdade de Engenharia Química). À luz do arcabouço teórico proposto pelo Prof. Ilya Prigogine, Prêmio Nobel de Química, este grupo estuda fenômenos não-lineares e complexos nos âmbitos social, econômico, tecnológico, climático e linguístico. Dada à complexidade de fenômenos atuais como mudanças climáticas, redes sociais e a emergência da inteligência artificial, urge a necessidade de aprofundar discussões e reflexões sobre a proposição de modelos que ajudem na compreensão desses fenômenos. Trata-se de um grupo com composição multidisciplinar para congregar diferentes visões sobre os diversos problemas a serem estudados.
IV. Projetos especiais. Situa-se, nessa categoria de ação do IdEA, o desenvolvimento de projetos de interesse da comunidade universitária, como o Ciclo de Conferências “A Crise Brasileira” (2019-2020), com a presença de personalidades de distintas áreas do conhecimento, tais como Rubens Ricupero e Sérgio Mamberti. É importante a menção do estabelecimento de parceria extramuros do IdEA, como o que ocorreu em 2020 com TV Cultura e o Portal UOL, em Ciclo de Entrevistas “Conversas na Crise – Depois do Futuro”. Mediado pelo jornalista Paulo Markun, em que participaram distintas personalidades de importância na história contemporânea brasileira, entre elas Marina Silva e Carmen Lúcia, convidados para debater o futuro pós-pandêmico. Ainda no escopo dessa linha de ação, cumpre mencionar a parceria entre IdEA/Santander, em 2022 e 2024, direcionados aos corpos docente e discente da Universidade para o desenvolvimento de projetos de pesquisa que integrem estudos em andamento ou de caráter incipiente, sobre temática relacionada às pesquisas empreendidas pelos grupos de estudos.
Torna-se necessário destacar que o IdEA integra dois espaços coletivos de Institutos de Estudos Avançados: (a) desde 2018, participa da rede internacional University-Based Institutes for Advanced Study (UBIAS), formada por 47 IEAs de 25 países e instituída para estabelecer oportunidades de intercâmbio de experiências e ações conjuntas entre os membros; e o (b) Fórum Brasileiro de Estudos Avançados (FOBREAV), criado em 2015.
ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO IdEA
Além da coordenação, o IdEA está estruturado em quatro áreas operacionais, contemplando duas áreas de apoio fundamental, Administração e Comunicação, e duas áreas programáticas, Programas e Estudos, sendo elas:
a) Administração – responsável por planejar, elaborar e acompanhar as atividades administrativas, compreendendo as seguintes subáreas: finanças (planejamento, controle de movimentações de contas orçamentárias locais e de conta extra-orçamentária, elaboração de relatórios), compras (orçamentos, solicitações de compras de produtos e serviços, diálogo com fornecedores, prestação de contas), recursos humanos (controle de ponto, férias, treinamentos diversos, processos de contratação, estágio probatório, transferência, afastamentos e licenças, orientação nos processos de progressão, entre outros), infraestrutura predial e de equipamentos (analisar periodicamente condições infraestruturais e de limpeza, higienização e dedetização, solicitar reparos e manutenções, acompanhar e avaliar a execução de serviços) e patrimônio (realizar controle de bens do órgão, providenciar incorporação e recolhimento de bens), almoxarifado (gerenciar estoque, solicitar e receber itens) e expediente (receber, registrar e encaminhar ofícios e demais documentos). Além dessas atividades, acresce-se a função de secretariar a coordenação do órgão, incluindo o gerenciamento de agenda de compromissos.
b) Comunicação – responsável por planejar, elaborar e executar as ações de comunicação do IdEA, tendo em vista sua divulgação institucional e a divulgação de atividades e eventos promovidos pelo Instituto; acompanhar e produzir fluxos de conteúdos diversos para o site e redes sociais do órgão; elaborar entrevistas, reportagens, notas, releases, resumos, roteiros e outros produtos textuais de comunicação; dialogar com imprensa para divulgação de atividades e atendimento de demandas; realizar cobertura jornalística de todos os eventos e atividades do Instituto para produção de registros audiovisuais voltados às redes sociais; criar peças gráficas impressos e digitais diversas para divulgação institucional e de eventos relacionados às áreas de Programas e de Estudos e a eventuais projetos especiais e parcerias; analisar continuamente e propor melhorias na estrutura, conteúdo e navegabilidade do site institucional; pesquisar e implementar novas estratégias e canais de divulgação (newsletter, listas de transmissão e soluções digitais); monitorar indicadores de desempenho do site e redes sociais e elaborar relatórios; promover ações para implantação e promoção da revista eletrônica Entre IdEAs; planejar e coordenar processo de editoração das publicações do Instituto.
c) Programas – responsável por planejar e executar os Programas “Hilda Hilst” do Artista Residente e “Cesar Lattes” do Cientista Residente; mapear futuros residentes; elaboração de plano de atividades; preparar e tramitar de processo de pagamento de bolsas; solicitar de aquisição de passagens aéreas, transporte terrestre e hospedagem; organizar as atividades da residência; reservar espaços para os eventos relacionados à residência; coordenar o cerimonial do Instituto; planejar e executar novos projetos e parcerias do IdEA (mapeamento e captação de ações; acolhimento de propostas; diálogo com órgãos internos e externos à Unicamp; implementar de ações diversas relativas a projetos e parcerias em andamento).
d) Estudos – responsável por acompanhar o desenvolvimento das reuniões dos Grupos de Estudos: agendamento da sala de reuniões, preparação do espaço, gerenciamento de recursos orçamentários destinados a cada grupo, solicitação de compras de materiais e serviços, solicitação de reserva de transporte aéreo e terrestre para os membros externos à Unicamp; organizar os Seminários IdEA dos Grupos de Estudos, assim com o Simpósio Anual do IdEA (envio de convites; elaboração de programação; solicitação de aquisição de passagens aéreas, transporte terrestre e hospedagem; solicitação de produção de material de divulgação; inscrições; reserva de espaços; convites a autoridades; cerimonial; recepção de convidados; lista de presença; certificados etc.); propor, planejar e implementar eventos e ações correlatas para divulgação científica da produção dos Grupos de Estudos a públicos externos diversos (estudantes da educação básica, comunidade do município, governos, empresas, instituições parceiras da Universidade, terceiro setor, imprensa etc.); orientar e acompanhar Grupos quanto à elaboração de material para a publicação do Instituto; produzir levantamentos de dados e estudos diversos para subsidiar a elaboração de documentos institucionais, bem como a atuação e a promoção das atividades do Instituto.
CONCLUSÃO
Ao nos debruçarmos nos últimos quarenta anos, observamos a construção do Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp por etapas características. A origem do IdEA inicia-se, no pressuposto de Flexner (1939), como residência artística. Diferentemente dos demais IEAs que temos notícias, o da Unicamp surge das Artes, muito devido ao linguista Carlos Vogt, ao jornalista Eustáquio Gomes e ao músico Almeida Prado. Após um quarto de século é que aparece o Centro de Estudos Avançados, daí sim na concepção ampla de acolher o pensamento científico, na sua concepção clássica, principalmente ancorado em Grupos de Estudos. O IdEA veio para revigorar o conceito de Estudos Avançados ab initio, caracterizando as atividades intelectuais e espirituais, no escopo que nos oferece Flexner (1939).
Na terceira gestão do IdEA, período em que é escrito este artigo, o Instituto é reestruturado em sua condução, havendo duas áreas de apoios que suportam áreas temáticas, como a de Estudos, em que se concentram os Grupos de Estudos, e a de Programas, na qual estão as Residências Artística e Científica.
Os Grupos de Estudos apresentam características diversas e nos mais variados campos do saber, contudo transdisciplinares, podendo ser observados em dois grandes núcleos: o núcleo acadêmico, sendo eles O fim da certeza: tempo, caos e as novas leis da natureza; Som e processos criativos; Teoria da Filologia; e o núcleo de políticas públicas e compromisso social, compostos por Estratégias para o enfrentamento às doenças que afetam populações negligenciadas; Escola e convivência democrática: participação, diversidade e políticas públicas; Mudanças climáticas e eventos extremos; Saúde mental e violência: Tessituras dissidentes. Isso, de modo algum, os separa, pelo contrário, complementam-se, visto que o núcleo acadêmico atua em política pública e compromisso social, vice-versa.
A comunhão das Residências Artística e Científica com os Grupos de Estudos é notável, pois favorece o trânsito do pensamento. A cientista residente, Debora Tajer, foi indicada pelo grupo de saúde mental, e proferiu palestras na Medicina e para o Núcleo de Estudos de Gênero da Unicamp. Já a artista residente Daniela Arbex, além das humanidades, também proferiu palestras para a Medicina, visto que uma de suas obras é dedicada à saúde mental. Inclusive, a residência de Daniela permitiu que ela desenvolvesse algo inédito em sua carreira profissional de jornalista investigativa, que foram as oficinas sobre escuta afetiva, destinadas tanto ao público interno como ao externo à Unicamp, propiciando intensa relação dialógica com a sociedade.
Quando nos dedicamos aos Estudos Avançados, pensamos imediatamente na fronteira do conhecimento em suas múltiplas áreas. Trata-se de explorar limites movidos por uma força motriz orientada ao devir — deixar-se levar pelo rio de Heráclito. Quanto mais instigadoras as perguntas, mais profundos e exigentes se tornam os desafios. No entanto, os Estudos Avançados não se restringem a resolver problemas: seu papel é também antecipá-los e projetar soluções estratégicas, guiadas por abordagens verdadeiramente transdisciplinares.
Por outro lado, além da especificidade do conhecimento que, no limite, poderia reportar à sua inutilidade, na concepção de Flexner (1939), ou seja, conhecer por conhecer; o Instituto de Estudos Avançados da Unicamp dirige-se à população brasileira, em particular, para aquela em condição de invisibilidade social. E, sim, o conhecimento também deve ser útil. Existe, desse modo, uma dialética importante e que é movida pela diferença.
O IdEA da Unicamp tem uma sede física que é um primor arquitetônico, e não é um espaço amplo, com números excessivos de colaboradores. O IdEA é, sobretudo, diferente.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Prof. Dr. Paulo Cesar Montagner, reitor da Universidade Estadual de Campinas, que nos confiou a coordenação do Instituto de Estudos Avançados, ao chefe de gabinete Prof. Dr. Osvaldir Pereira Taranto, pelo suporte à nossa gestão, e ao servidor Thyago Ismael Lins do GR, e à equipe do IdEA: Janaína Moraes da área de Administração; Ton Torres da área de Comunicação; Thais Marin da área de Programas; e Juliana Biason da área de Estudos, que juntos e uníssonos fazem a diferença.
REFERÊNCIAS
FLEXNER, A. The usefulness of useless knowledge. Harper´s Magazine, n. 179, p. 544-552, 1939.
FUNARI, P. P. A.; PEDROSA, R. O Centro de Estudos Avançados da Unicamp: objetivos e perspectivas. Estudos Avançados, v. 25, n. 73, p. 61-72, 2011.
GODDARD, P. O crescimento dos Institutos de Estudos Avançados. Estudos Avançados, v. 25, n. 73, p. 7-18, 2011.
LINKEDIN. Institute for Advanced Study. Disponível em: https://www.linkedin.com/company/institute-for-advanced-study. Acesso em 12 nov. 2025.
PADBERG, B. A diversidade global dos Institutos de Estudos Avançados. Estudos Avançados, vol. 34, n. 100, p. 369-396, 2020.
