Docente abriu residência científica no IdEA em setembro com dois encontros na Unicamp
18 set 2024Compartilhar
Autoria Guilherme Gorgulho (Comunicação IdEA)
Edição de Imagem Pedro Henrique S Rodrigues (bolsista)
Fotografia Lúcio Camargo
O professor português Jorge Olímpio Bento, da Universidade do Porto, abriu o ciclo de atividades que está desenvolvendo no Programa “Cesar Lattes” do Cientista Residente, do Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp, com duas palestras que tinham como eixos principais a lusofonia e o esporte. As possibilidades de diálogo entre os países de língua portuguesa e as matrizes filosóficas que conduzem o pensamento e a produção acadêmica de Bento na área do desporto estiveram entre as discussões propostas.
No dia 13 de setembro, o primeiro evento da residência Lusofonia e Universidade – Em Viagem para um Mundo Novo, reuniu docentes, alunos, autoridades da administração da Unicamp e representantes da diplomacia de Portugal no Auditório Raízes, da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DEDH).
Sob a mediação de Rafael Dias, professor da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp e assessor da Diretoria de Relações Internacionais (Deri), Bento discorreu, na palestra chamada “Lusofonia, bússola para outros futuros possíveis”, sobre suas experiências no Brasil e sobre como essa relação de proximidade foi importante para seus trabalhos acadêmicos, como docente da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (Fadeup) e pró-reitor dessa universidade.
Para Bento, o Brasil tem um papel muito importante, de protagonista, nessa nova configuração de mundo que se desenha atualmente, mais cordial e universalista. “Outros impérios tentam conquistar o mundo pela força. Nunca conseguem. Dominam, mas não se faz a conquista pela força. A conquista se faz pela música, pelos afetos, pela palavra, pelas relações, pelos jogos. O Brasil é admirado em todo o mundo pelo futebol e pela música”, afirmou o docente português.
Antevendo as possibilidades de integração entre as nações que têm o português como idioma oficial, ele critica o fato de as universidades brasileiras e portuguesas pouco se interessarem pelo mundo lusófono. “Nós temos que nos voltar para o Sul Global. A nossa viagem foi para o Sul, para uma nova civilização, fundada no afeto, na fraternidade, no lazer. O Norte ficou muito viciado na ética luterana, do trabalho, do produtivismo, da exaustão.” Para ele, importantes universidades brasileiras, como a Unicamp e a Universidade de São Paulo (USP), dispõem de um potencial enorme para atrair estudantes de Angola, Moçambique, Macau e Goa, por exemplo. “As universidades públicas têm uma dimensão política e têm que ter essa dimensão para contribuir com a afirmação do país.”
Na abertura da residência, Christiano Lyra, coordenador do IdEA, elogiou o currículo e a trajetória do novo convidado. “Nós temos uma satisfação muito grande de receber hoje o professor Jorge Bento, um grande amigo da Unicamp. Nós o conhecemos há muitos anos. Ele gosta muito da Unicamp e nós gostamos muito dele”, afirmou Lyra. Entre os presentes no evento estavam o cônsul-geral de Portugal em São Paulo, embaixador António Pedro da Silva, o pró-reitor de Graduação da Unicamp, Ivan Toro, e o chefe do Gabinete do Reitor, Paulo César Montagner.
No dia 16, Bento esteve na Faculdade de Educação Física (FEF) para falar sobre os valores filosóficos e as bases históricas e axiológicas da prática esportiva no Ocidente. Desde que começou a lecionar, em 1976, Bento se debruçou sobre o papel da educação, do esporte e de outros domínios culturais considerando seu potencial para melhor a vida das pessoas e o mundo.
“O desporto está a esquecer de sua idiossincrasia, está entregue ao império do efêmero, ao mercado, à civilização do espetáculo, ou seja, está a divorciar-se de suas finalidades. Claro que isso não acontece apenas no desporto. Acontece em tudo que nos cerca, também no próprio funcionamento da instituição universitária”, criticou Bento. Lotaram o auditório da FEF dezenas de alunos da graduação e pós-graduação, além de professores da faculdade e outras pessoas.
Em sua explanação, o docente português apontou a importância do épico Odisseia, de Homero, como um dos textos fundadores do pensamento ocidental e lembrou de passagens que têm os feitos atléticos como tema, especificamente na confraternização que dá sentido às competições e aos jogos corporais.
De acordo com Bento, uma de suas motivações durante a palestra foi despertar o público presente para a necessidade de se “renovar os olhares filosóficos e pedagógicos sobre o desporto”. Há um risco de se “afastar [o desporto] do estádio grego e abeirar do circo romano, de se divorciar da arété e paideia gregas, da cultura humanista e iluminista”, destacou o professor, referindo-se à “arte dos gregos”, também traduzida como “excelência” e “virtude”, e ao sistema de educação da Grécia na Antiguidade.
Graduado em educação física pelo Instituto Nacional de Educação Física de Lisboa (Portugal), em 1972, e doutorado em pedagogia pela Ernst-Moritz-Arndt-Universität de Greifswald (Alemanha), em 1982, Bento ingressou como docente na Universidade do Porto em 1976, instituição pela qual se aposentou em 2016. Nessa universidade, foi assessor de projetos de integração com os países lusófonos e pró-reitor de relações internacionais (1995-1998). Bento recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e da Kasetsart University (Tailândia).
No dia 25 de setembro, às 14h, o professor fará sua última palestra do ciclo, na FCA, em Limeira, sobre a importância da preservação do papel civilizatório das instituições de ensino superior em tempos de múltiplas crises, palestra essa com o título “Nossa Casa Comum em Mares Revoltos – que papel cabe à universidade?”.
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