O professor Dr. Luiz Carlos Dias, do Instituto de Química da Unicamp (IQ) e Coordenador do gurpo de estudos “Estratégias para o enfrentamento às doenças que afetam populações negligenciadas”do Instituto de Estudos Avançados (IdEA), participou do programa “Contraponto”, apresentado por Márcio Alvarenga, em debate sobre a adulteração de bebidas destiladas com metanol — uma prática que vem provocando mortes e internações em diversos estados brasileiros.
O episódio contou também com a presença do médico sanitarista e ex-presidente da Anvisa Gonzalo Vecina, em uma discussão ampla sobre os riscos à saúde, as falhas de fiscalização e a presença do crime organizado nesse tipo de comércio ilegal.
Durante o programa, o professor Luiz Carlos Dias explicou as características químicas do metanol, um álcool altamente tóxico e incolor, de odor semelhante ao etanol, que tem sido utilizado de forma criminosa na adulteração de bebidas. “Mesmo em pequenas quantidades, o metanol é potencialmente letal. Ele não deve, sob nenhuma circunstância, ser usado para consumo humano”, afirmou o docente.
Dias detalhou o processo de metabolização do metanol, destacando que, ao ser ingerido, o composto é convertido pelo fígado em formaldeído e ácido fórmico, substâncias extremamente tóxicas que afetam o sistema nervoso central e podem causar cegueira irreversível, coma e morte.
“O metanol engana o corpo nas primeiras horas, com sintomas semelhantes à embriaguez comum, mas os efeitos graves aparecem depois, quando o organismo já o transformou em metabólitos perigosos”, explicou.
Luiz Carlos Dias também comentou as opções de tratamento, como o uso de fomepizol, antídoto ainda indisponível no Brasil, e o etanol farmacêutico, que pode ser administrado em ambiente hospitalar para impedir a metabolização do metanol. Em casos severos, o tratamento requer hemodiálise, bicarbonato e ácido fólico, que auxiliam na correção da acidose metabólica e na eliminação dos compostos tóxicos.
O professor enfatizou ainda que não há métodos caseiros seguros para detectar a presença de metanol em bebidas. “O metanol não altera sabor, cheiro nem aparência. Só é possível identificá-lo com testes laboratoriais, como cromatografia gasosa e espectrometria de massas. Não existe detecção doméstica confiável”, alertou.
Ao longo do programa, os debatedores também abordaram o papel da fiscalização deficiente e o impacto da alta carga tributária, que incentiva a informalidade e a falsificação de destilados de alto valor, como gin e uísque. Ambos defenderam ações integradas entre autoridades sanitárias, Receita Federal e forças de segurança para combater o mercado ilegal e garantir a segurança da população.
“A prevenção é a melhor arma contra esse tipo de tragédia. A população precisa desconfiar de preços muito baixos e comprar apenas de fabricantes e distribuidores confiáveis, com rótulo, lacre e selo fiscal”, concluiu Dias.
A seguir, confira o bate-papo na íntegra.
